Anvisa alerta para riscos de suposta “pílula do câncer”

Apesar dos aspectos positivos, as redes sociais carregam também diversos pontos negativos – ainda mais quando as pessoas simplesmente acreditam em tudo que está lá. Informações falsas aparecem sistematicamente nestes locais e, de tanto que são repetidas, passam a ser vistas como verdade por alguns.

A fake news da vez diz respeito a uma pílula que supostamente curaria o câncer. Trata-se da fosfoetanolamina, uma substância que já passou por testes científicos antigamente, mas não foi aprovada. Mesmo assim, alguns sites e perfis no Instagram estão anunciando o composto químico como “a esperança para o combate ao câncer”.

Leia mais

Diante disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) resolveu se manifestar e divulgou uma nota chamando essas propagandas de “irregulares e enganosas”. De acordo com a entidade, a fosfoetanolamina não combate o câncer “ou qualquer doença”, nem possui “propriedades funcionais ou de saúde”.

A Anvisa acrescenta que a substância não possui autorização ou registro para uso como suplemento alimentar ou medicamento no Brasil.

“Utilizar produtos não registrados pela Anvisa para o tratamento do câncer é extremamente arriscado. Esses produtos podem interferir negativamente nos tratamentos convencionais, além de apresentar riscos de contaminação”, conclui a nota da agência.

Imagem: Reprodução/Anvisa

Não é a primeira vez que essa substância aparece

  • Há quase 10 anos, em 2016, a então presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei que liberava a tal “pílula do câncer”.
  • Havia uma pressão popular grande, à época, pela aprovação – e não tinha como ser diferente: o câncer é uma das doenças mais cruéis que existem, e sem cura.
  • O Congresso aprovou rapidamente o projeto, que tinha entre os seus autores o então deputado Jair Bolsonaro.
  • Só que um mês apenas depois da publicação da lei pela presidente, o Supremo Tribunal Federal concedeu uma liminar suspendendo a distribuição das pílulas.
  • O julgamento de fato, do mérito, ocorreu em 2020, confirmando a inconstitucionalidade do dispositivo.
  • O STF entendeu que os parlamentares não podem liberar substâncias químicas que não tenham sido avaliadas e autorizadas pela Anvisa.
Anúncios nas redes sociais chamam a tal “pílula do câncer” de “esperança” – Imagem: Reprodução/Instagram
  • Como eu disse, tudo foi feito meio às pressas, na esperança de que o negócio poderia mesmo ser eficaz.
  • Só que os testes clínicos apontaram o contrário.
  • O Ministério da Ciência e Tecnologia criou um grupo de trabalho sobre o tema e o parecer foi negativo.
  • Em 2017, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) promoveu uma pesquisa para avaliar os efeitos da substância e o resultado foi o mesmo.
  • De 72 pacientes que tomaram a pílula, apenas 1 teve melhora no quadro – mas não ficou provado que essa melhora teve a ver com a substância.

Um pouco mais de história

Ok, deu para entender que as entidades de saúde, científicas e a própria Anvisa não aprovaram a pílula lá atrás. E você deve estar se perguntando o seguinte agora: mas como ela está sendo comercializada mesmo assim? A ponto de existirem esses anúncios nas redes sociais.

Essa é a grande questão. E foi o pulo do gato do fabricante, à época. Sem autorização da Agência e do STF, a empresa, que tem sede nos Estados Unidos, passou a vender a substância como suplemento alimentar – e não como remédio.

Pela lei, suplementos alimentares não precisam de registro na Anvisa, a não ser aqueles que possuem enzimas ou probióticos. Ou seja, encontraram a brecha perfeita e a substância continuou circulando por aí.

Anvisa
A Anvisa é a responsável pela aprovação ou não de medicamentos no país – Imagem: Brenda Rocha – Blossom / Shutterstock.com

Só que a repercussão negativa à época fez com que a “pílula do câncer” fosse deixada de lado. Só que as pessoas costumam ter memória curta, e o assunto voltou com força agora, impulsionado pelas redes sociais.

Daí essa nova manifestação da Anvisa. Daí também a importância do Jornalismo: fazer com que as pessoas se lembrem.

As informações são da Agência Brasil.



Botão Voltar ao topo
Cookies.

By using this website, you automatically accept that we use cookies. What for?

Understood